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A inspiração das crianças no desenvolvimento local (Negócios, 10/10/2019)

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No movimento do desenvolvimento local acreditamos que parte dos problemas sociais, económicos e ambientais tem origem numa forte crise de valoras, o que exige uma atuação sistémica e promotora da mudança a partir da educação comunitária. Um provérbio africano alude que "para se educar uma criança é preciso toda uma aldeia". Entrenós, acrescentamos, adaptando um outro provérbio, de origem asiática, que ela deverá ser escutada, sentir-se como igual, participar nas decisões e aprender a construir a sua rede para nunca pescar sozinha e nem mais do que necessita. Destaco a canadiana Sevem Cullis-Suzuki, fundadora da ECO Environmental Children’s Organization, a primeira criança inspiradora a ser escutada, então com 12 anos, na conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro, em1992, onde apresentou um discurso emotivo perante os vários líderes mundiais sobre os impactos da poluição nos ecossistemas e na vida humana. Em 2013, a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, Nobel da Paz em 2017, aos17 anos, tomou-se uma referência mundial ao defender a importância da educação para todas as crianças. Recentemente, vimos e ouvimos Greta Thunberg, que em 2018, com 16 anos, após a Suécia ter sido assolada por graves incêndios e ondas de calor históricas, promoveu uma greve à escola pelo combate às alterações climáticas, mobilizando professores e colegas, É aqui que realço a importância das dinâmicas de muitas associações de desenvolvimento local no contributo para a educação comunitária, envolvendo crianças e jovens nas suas ações, despertando consciências e novas lideranças, dando voz às suas preocupações e criando condições para que a inovação societal aconteça nas comunidades onde vivem. Entenda-se a inovação societal como o processo de transformação de sociedade através de novas práticas de alerta, manifestação e cooperação entre setores que levam à mudança das comunidades e da sociedade em geral. Greve à escola pelas alterações climáticas é sem dúvida urna inovação, no sentido da inversão das relações de poder e liderança, em que os alunos lideram a comunidade educativa, no sentido de responderem às suas e "nossas" necessidades, alertando para a necessidade de novas aprendizagens de vivência e respeito para com todos os seres vivos numa mesma casa comum. E também um duplo alerta, para os impactos das alterações climáticas e para a necessidade de uma educação integral sistémica, em que é importante uma educação comunitária, intergeracional e intersetorial, construída com base na coerência entre a visão do mundo que ambicionamos e as ações que executamos. As crianças e os jovens estão atentos e têm um sentido de justiça extremamente apurado. Se os escutarmos, compreendemos a premência de promovera cooperação e solidariedade num sistema que valoriza em demasia o individual e a competição. É indispensável uma educação comunitária para a economia social e solidária, setor que defende a "casa e bens comuns", a dignidade e a igualdade, a justiça e a sustentabilidade. As dinâmicas de desenvolvimento local são cada vez mais "com" as crianças, dando-lhes voz e oportunidade de organização coletiva e de relacionamento com o poder local, gerando novas formas de participação, de decisão e de democracia, em que, a sustentabilidade da nossa casa comum passa a estar no centro das decisões.

Marco Domingues,
Presidente da Animar - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local e docente na Escola Superior de Educação de Castelo Branco

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